"Fissura", performance de Lilian Walker, elaborada para a instalação "E abriram brechas para beber água", realizada pela artista na Casa das Artes Bissaya Barreto, Coimbra, no âmbito do Festival Apura 2024. O vídeo, nova camada criativa do projeto, reúne a essência das linguagens, dos gestos e dos sentidos trabalhados na ação.
A instalação "E abriram brechas para beber água" é composta por peças em barro cerâmico e fibra de vidro e uma projeção de vídeo que desenvolve o processo de secagem da argila líquida sobre a pele. O barro é usado cru, sem cozer, e se agarra à trama de vidro, o esqueleto que o sustenta, ora de maneira sólida e firme, ora demasiado frágil, quase a romper. Essas formas, ao evocar cascas, peles ou ruínas, e em composição com o vídeo, conversam com o conto "O Jardim Sonoro", do escritor Tonino Guerra, que cria uma fábula sobre territórios de abandono, onde outrora encontravam água nas fissuras dos troncos de árvores sonoras. A trilha que acompanha o vídeo e preenche o ambiente da instalação percorre essa história da transição do tempo da água, presente na matéria e no mito, e foi concebida pelo músico Felipe Neiva, convidado a compor para este projeto. A própria obra se considera em transição, não só pelos estágios de secagem do barro, que impõem novas configurações às peças, revelando seu interior, mas pelos gestos do corpo na performance, que renovam o ciclo da matéria e se misturam nela, numa simbiose de criador e criatura. Durante a performance, trechos e releituras do conto "O Jardim Sonoro" são narrados por Sandra Lessa, sobrepostos à melodia de Felipe Neiva.
A produção, a montagem e a iluminação das peças no espaço contaram com a assistência de Samir Bichara.
Este projeto teve apoio do Festival Apura, da Casa das Artes Bissaya Barreto e da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Artista:
Lilian Walker
Narração:
Sandra Lessa
Música:
Filipe Neiva
Gravação e Edição Vídeo:
João Pidrança
Captação Fotográfica:
João Duarte